Descobrir como educar na era digital pode ser um desafio
É curioso, nunca tivemos tantos meios para expressar o nosso verdadeiro “eu”, e nunca tivemos tão longe do nosso verdadeiro “eu”. E porque nos sentimos todos sozinhos, quando com um click podemos estar ligados a milhões?
In a society that says “put yourself last” self-love and self-acceptance are almost revolutionary
Brené Brown in The Gifts of Imperfection
Numa sociedade que estigmatiza o erro, aponta a falha, valoriza o padrão, crescemos a tentar encaixar, em vez de cultivar o “pertencer”. A nossa necessidade de pertencer, é fundamental e primária. Representou em tempos a diferença entre sobreviver, ou não. Essa urgência, comprovada pela biologia e a neurociência, continua muito marcada no nosso subconsciente. Move-nos, dá significado às nossas relações, e é o motor inconsciente das nossas ações.
Segundo a Brené Brown, a diferença entre pertencer e encaixar, representa a diferença entre sermos nós próprios, e o que precisamos SER para ser aceites. Na maioria dos casos, devido à falsa noção de “estarmos ligados” pelas redes sociais, o foco está em encaixar, em colocar o filtro certo, para receber os likes que nos dão validação. Todas essas plataformas estão assentes nessa procura de gratificação instantânea, por isso são tão atrativas.
Cada vez que temos mais um like, sentimos um micro segundo de gratificação seguido da ânsia por mais uns tantos. Porque é que achas que estamos sempre a consultar estas plataformas? Porque nunca sabemos quando pode chegar mais um like, o que torna tudo aleatório e ainda mais viciante.
Se formos aceites pelo nosso lado que “encaixa”, nunca nos sentimos verdadeiramente aceites
O irónico da situação, é que se formos aceites pelo nosso lado que “encaixa”, nunca nos sentimos verdadeiramente aceites. Isto cria um enorme vazio interior, e um enorme gasto de energia interna para manter o “personagem” a funcionar. No processo, vamos criando cada vez mais distância do nosso “eu”, através das histórias que contamos sobre nós (a nós), a vergonha que temos de mostrar as nossas falhas, rugas, emoções peludas, fracassos, dias maus ou sementes de chia entaladas nos dentes.
A comparação é outra componente tóxica destas plataformas. Passamos o tempo a comparar a nossa história de insucesso, com a aparente história de sucesso dos outros. Criamos a fantasia de que a vida dos outros é perfeita, e não apenas uma seleção propositada de bons momentos instagramáveis.
É preciso perceber que somos todos humanos, logo imperfeitos por natureza, o que nos torna humanamente perfeitos. É a nossa imperfeição que nos une, e não os feeds de instagram.
O caminho que cada um tem pela frente também é único, por isso comparar é inútil e uma perda de tempo. (Apesar de ser usado muitas vezes como “ferramenta” de motivação em empresas… e dentro de casa.)
É preciso ser dono de um estruturado growth mindset para ver no outro uma inspiração e não uma confirmação do nosso insucesso.
A Brené Brown tem um trabalho fabuloso sobre vulnerabilidade, vergonha, imperfeição, autocuidado e como enfrentar a vida por inteiro. Tem inúmeros livros imperdíveis baseados em anos de pesquisa sobre estes temas.
Actualmente, estou a ler “The Gifts of Imperfection”, que aborda muitos dos temas que surgiram na minha pesquisa sobre autoestima, que deu origem ao livro “Eu sou super – Pequenos exercícios para uma grande autoestima”. No super livro, identifiquei a extrema importância do autocuidado e da noção de pertencer, para a construção de uma autoestima saudável nos nossos filhos. No livro, e no meu curso de autoestima, encontras vários exercícios catitas disponíveis para o fortalecimento destas áreas.
A linha base que acompanha todo este processo sabotador do “eu”, é a nossa cassete interna que acha que só somos dignos de amor “se”.
TRETA!!! Os “ses” e os “quandos” são TODOS uma ilusão.
Tu és dign@ hoje! Neste momento. Tu tens valor hoje. Se não tomares isso como uma verdade, vais passar o resto do tempo a caminhar cada vez mais para longe de ti.
Então, como educar na era digital?
Quanto mais perto estiveres de ti, mais perto estás de ajudar o teu filho a crescer perto de si próprio. A trabalhar a auto-aceitação, o autocuidado, e a desenvolver o que o torna único, e humano.
A desenvolver todo o seu potencial.
A separar o que ele é, e tudo o que tem para dar, do que ele acha que os outros querem que ele seja para ter mais likes. E, o mais importante, ajudas a que ele não tenha a mínima dúvida, que HOJE, e sempre, é digno do teu amor.
Artigo escrito originalmente pela Mãe Catita para a Uptokids