Entrei no elevador, um elevador grande, de um prédio grande, cheio de espelhos grandes.
Em cada piso, vários consultórios, muitos médicos, muitas batas e muitas coisas desconhecidas e assustadoras. Ele não tinha mais de 5 anos, escondido atrás da mãe.
Já o tinha visto antes de entrar. Reparei como estava assustado. Tinha o corpo retraído, os olhos colados no chão e o soluço preso na garganta.
Antes do piso 1, começou a chorar. Era um choro encolhido, sem espaço, que não libertava todo o turbilhão interior.
A mãe começou a pedir para ele parar. Schhhh! Schhhh! Como se o choro fosse uma falta de educação. Algo não permitido e incomodo. O rapazinho tentava engolir o próximo soluço, mas todo o corpo pedia um choro profundo. Todo o corpo pedia uma forma saudável de expressar o que ia dentro dele.
Sem aviso, a mãe virou-se para mim e pediu desculpa. Pediu-me desculpa por o filho estar assustado, e a chorar. Hã??? Nunca ninguém me pediu desculpa por ter a música alta demais, por atirarem um papel pela janela do carro, ou por passarem à frente só porque lhes apeteceu. Coisas que para mim fariam algum sentido serem seguidas de um “Desculpe”. Mas ali… fiquei atónita. Quando voltei a ter reação disse:
Não tem de pedir desculpa, chorar faz bem. Todos precisamos de chorar.
Desta vez, foi ela que ficou atónita.
Para grande alívio da senhora, chegaram ao seu destino, não fosse eu desatar a chorar no elevador. Pisquei o olho ao rapazinho, continuei o meu caminho mas o episódio ficou comigo. Fiquei a pensar na forma como lidamos com o “CHORAR”. Quando vem do bebé, encaramos como uma forma de comunicação, um pedido de ajuda, algo que devemos amparar emocional e fisicamente. No entanto, parece que com sorte só podemos chorar no máximo até aos 6 anos…
Quando o meu filho entrou para a primária, de um dia para o outro, o cenário mudou. Logo nos primeiros dias de aulas, no meio das suas intermináveis corridas, espatifou-se no recreio. Quando o fui buscar, estava arranhado de cima a baixo. Claro que quando me viu, apesar do episódio ter acontecido algumas horas antes, voltou a chorar. Uma descarga emocional natural perante um adulto de referência.
A auxiliar veio logo explicar com ternura “Já lhe disse que não é preciso chorar, que ele agora está na primária e já é crescido.” Hã??? Perguntei com um sorriso:
Curioso, eu tenho quase 40 anos e choro sempre que preciso. Já não chora?
Auxiliar atónita do outro lado.
Não percebo porque há tamanha diferença na aceitação do riso e do choro. São os dois fundamentais para digerir emoções e expressar sentimentos. Os dois estão ligados como o sol e a chuva. Cada um com funções distintas mas igualmente importantes. A sua dança alternada cria o equilíbrio e, como no arco-íris, podem aparecer juntos no maravilhoso chorar a rir.
O choro acompanhado (quando a criança está a chorar mas sente-se totalmente apoiada) é profundamente curativo, ajuda a libertar tensão, medo, frustração, raiva, tristeza. A criança sabe que está segura para entrar em contacto com essa parte mais escura e lamacenta, que nós estamos ali, mesmo à mão. Essa segurança permite-lhe lidar com emoções peludas e crescer emocionalmente.
Não chorar não significa que está tudo bem. Significa que há um mar de lágrimas preso numa barragem que vai enchendo em vez de a água ir fluindo para onde precisa. Nunca peças desculpa por chorar. É esta água salgada e doce que nos faz ser humanos.
Do not apologize for crying. Without this emotion, we are only robots.
Elizabeth Gilbert
Artigo escrito originalmente pela Mãe Catita para a Uptokids