Confesso, tenho 39 anos e sou desobediente.
Quando estou na fila do supermercado e vejo alguém com uma única compra na mão, deixo passar à minha frente.
Às vezes até deixo passar só porque está com um ar cansado ou apressado.
Quando coloco moedas no parquímetro e me sobra mais de 30 minutos de estacionamento, ofereço o talão a um estranho.
Depois há os dias em que está friooooo e como não tenho nada para fazer, fico de pijama o dia TODO, a rebolar de um lado para o outro.
Às vezes como comida com a mão, mesmo que não esteja na Índia, sabe ainda melhor se estiver sentada no sofá a ver qualquer coisa catita.
Não consigo seguir receitas, invento todos os pratos que cozinho, para grande alegria e tristeza do meu marido, porque nunca consigo repetir um sucesso culinário. Preciso de saber o porquê de tudo, e questiono sempre quando me dizem para fazer alguma coisa que sinto que não quero fazer.
Ser obediente não é aquela característica fabulosa que todos pensam. Às vezes, ser desobediente pode salvar-te a vida. Como quando és adolescente e tens um macho alfa a dizer-te para fazeres algo profundamente idiota. Ou quando tens um chefe sem escrúpulos que quer que faças algo ilegal.
Ah! Então agora era a anarquia e cada um fazia o que queria? Claro que há regras que devem ser seguidas, regras de segurança e sociais, mas não é dessas que estamos aqui a falar.
Ao contrário do que muitos pensam, as crianças querem naturalmente colaborar com os pais. Querem sentir-se vistas, amadas e reconhecidas. O seu comportamento é apenas uma manifestação do que se passa dentro delas. Também tu quando te sentes mal, te portas mal. Se olhares com atenção vais ver MUITOS adultos durante o dia de hoje a fazer grandes birras, basta ires a uma repartição de finanças ou passar alguns minutos no trânsito.
Se o comportamento do teu filho te mostra que algo não está bem, investiga. Descobre o que se passa com ele, o que ele te está a tentar comunicar. Investiga também o que se passa contigo, o que TU estás verdadeiramente a precisar. Se apenas mudas o seu comportamento, sem tentar compreender a necessidade que não está a ser preenchida, vais para sempre fechar um importante canal de comunicação.
Investiga, também, quais são os teus limites, e como os estás a comunicar.
A obediência consegue-se, com meia dúzia de técnicas, meia dúzia de recompensas, castigos, ou 7 minutos a pensar no cantinho da vergonha. Mas senta-te lá tu. Senta-te e sente o que vai dentro de ti quando tens 7 minutos para pensar como és uma “má” pessoa. Sente o que aprendes.
Ouve a voz crítica que começa a crescer como uma erva daninha dentro de ti, a raiva que te arranha a garganta, e a tristeza que te salta em cascata dos olhos. Sente como algo se quebra em ti. Ali sentado, calculo que tenhas vontade de obedecer, mas a que custo… Ao teu custo.
Há uma outra forma. A construção da relação entre pais e filhos. Não é rápida, tal como não o é nada que valha mesmo a pena. Não é apenas pintar a fachada de uma casa a cair, é construir fundações, estruturas fortes, olhar com compaixão para tudo o que precisa mudar, e ter a coragem para o fazer. É uma mudança de dentro para fora.
Uma mudança que faz toda a diferença num mundo que precisa de pessoas que pensem com todo o coração e não que sigam apenas ordens cegamente.
Sê o exemplo que queres ver crescer no teu filho. Se valorizas a generosidade, sê generoso. Se valorizas a comunicação, a colaboração, a simpatia, a ordem, a organização, é só viveres isso no teu dia a dia.
E sabes porque isso é fantástico? Porque as crianças aprendem pelo exemplo e não pelas palavras que são gritadas. Porque quanto mais de te conheces, aceitas e és coerente com o que vai dentro de ti mais reconstróis a tua autoestima. E sabes o que um pai que constrói, dia a dia, uma autoestima saudável faz a um filho? Inspira-o a fazer o mesmo. É super, não é?