Era uma festa. Para um pequeno catita de 5 anos, uma das suas coisas preferidas (tirando comer uma banana, claro). Ele adora ver gente junta, feliz e de preferência rodeada de comida. Se no meio conhecer meia dúzia de pessoas novas, aí fica mesmo eufórico.
No meio de toda aquela alegria, apareceu na sala a chorar profundamente. Corri para ele e abracei-o. Estava a tentar perceber o que lhe tinha acontecido. Enquanto ele soluçava sem parar, entre meias palavras, consegui perceber que o seu chapéu colorido tinha voado para qualquer lado. Ele estava triste, mesmo triste. Do nada, apareceu uma senhora, cheia de boas intenções, e disse-lhe:
Não precisas ficar assim! É só um chapéu. Vá, já chega de chorar. Deixa-me ver o teu lindo sorriso!
O pequeno catita ainda chorou mais. Ao ouvido dele, enquanto o abraçava, sussurrei:
Chora. Chora tudo o que precisares. Eu percebo que estás mesmo triste, era o teu chapéu das aventuras, não era?
Ele chorou mais um bocadinho e quando estava preparado, fomos procurar o chapéu no jardim.
Ver alguém chorar faz disparar algum alarme bem profundo dentro de nós. Só queremos que pare. Mas chorar é um mecanismo que temos para libertar a emoção que estamos a sentir. É uma espécie de cura, de transformação do que nos aconteceu. É quando a emoção está a sair do corpo.
O que a senhora lhe disse foi, de certa forma, que a emoção que ele estava a sentir não era adequada à situação. Era uma espécie de “o que estás a sentir não está certo”. É assim tão desconfortável para nós assistirmos às emoções “menos sorridentes” dos outros?
Os pensamentos, emoções e comportamentos da criança devem ser reconhecidos e, não engolidos. Devem ter espaço para existir. Porque eles estão lá na mesma. Se não veem para fora…vão para dentro. Ficam lá, paradinhos à espera de uma nova oportunidade, mais segura, para saírem cá para fora.
Porque é que acham que muitos pais ouvem que os filhos são fabulosos na escola e em casa só fazem pilharias? Eles estão a exprimir todas as emoções que durante o dia tiveram de ficar escondidas. Estão a trazê-las cá para fora para serem transformadas. E sabes porque o fazem apenas contigo?
Porque se sentem seguros. Porque sabem, bem lá no fundo, que gostas deles da pontinha das unhas dos pés ao cabelo mais comprido.
Sabem que não precisam de usar a máscara da menina bem comportada ou do melhor aluno da primeira fila.
Podem ser simplesmente eles, com tudo o que vai lá dentro.
Como as pessoas falam pouco dos seus sentimentos, muitas vezes sentimos que somos os únicos que temos emoções que nos deixam assoberbados. Sentimos que estamos sós nisto tudo e, que talvez não seja certo sentirmos o que sentimos.
Se permitirmos aos nossos filhos sentir e comunicar o que vai lá dentro, damos-lhes a possibilidade de gostarem de cada cantinho seu, do mais escuro ao mais luminoso. Só assim podemos fazer crescer a sua autoestima, a sua capacidade de empatia e a inteligência emocional.
Ao não negar o que sentimos, tomamos consciência de que não somos as nossas emoções. Elas apenas ficam um pouco, e vão. Como uma nuvem que passa ou uma chuvada que dura apenas alguns minutos antes do sol brilhar de novo.
Se tivermos curiosidade em descobrir o que os nossos filhos estão a sentir, sem tentar resolver o problema, julgar ou controlar, apenas deixando que eles se exprimam, estamos a dar-lhes a oportunidade única de compreender e aceitar o seu mundo interior.
Tu tens um papel MESMO muito importante aqui. Sabes, quando eles são pequeninos, o seu cérebro ainda não está totalmente desenvolvido. As zonas do cérebro correspondentes à relativização das emoções e ao colocar os acontecimentos em perspectiva ainda estão no início da construção.
O que domina é a parte do cérebro reptiliana, essa sim, totalmente desenvolvida, responsável pelas emoções mais cruas, como o medo, a raiva, a alegria e o choro.
Nós, pais, somos o sistema nervoso externo dos nossos filhos enquanto o outro ainda está em construção. Eles precisam de nós para os ajudarmos a lidar com os grandes sentimentos que os invadem. Somos nós que temos de lhes dar a mão e os ajudar a passar de um overload emocional para uma zona mais calma.
Passo a passo, enquanto ouvimos com empatia o que está acontecer com eles, vamos criando a ponte entre uma zona e outra. Uma ponte que um dia eles vão, finalmente, ser capazes de atravessar sozinhos.
Artigo escrito originalmente pela Mãe Catita para a Uptokids