Se queremos enfrentar alguma coisa, precisamos de saber o que ela é. De a conhecer e de a encarar de frente. De olhar para ela por inteiro.
O bullying tem várias características próprias, como a repetição do comportamento abusivo, um claro desequilíbrio entre o agressor e a vítima, e uma intenção do agressor em prejudicar a sua vítima.
É algo dirigido, e não aleatório.
É continuado no tempo e tem uma vítima sem a mesma capacidade de resposta que o agressor, que exerce o seu poder sobre ela.
É muito importante cultivar um canal de comunicação com os nossos filhos desde cedo, para que eles sintam que nos podem contar as coisas mais pequenas e as maiores. Que somos um porto seguro, e um dos seus adultos de confiança a quem se podem dirigir sempre que precisarem.
Para isso, nota como recebes alguma coisa que o teu filho te vai contar, especialmente quando fez uma asneira. Eu penso sempre na coragem que ele teve em ser verdadeiro comigo, por isso a primeira coisa que lhe digo é sempre:
Obrigada por me teres contado.
Funciona como uma pausa interior minha de micro segundos, que me ajuda a alinhar tudo o que vou fazer e dizer à minha intenção como mãe. Ajuda-me a valorizar o facto de ele sentir que pode falar comigo, algo essencial para a nossa relação, e para os desafios que ele vai enfrentar no seu crescimento.
O bullying não é simples. Tem muitos fios enrolados, muita dor envolvida…
Tem muitas pessoas que acabam por ter um papel ativo, sem terem noção disso. Ser espectador também fomenta o bullying, ele existe alimentado pela audiência que tem. Não ser plateia, ajuda a diminuir o seu poder.
Trabalhar desde cedo a empatia nos nossos filhos é para mim uma das mais poderosas aliadas anti-bullying. Deve estar lá desde sempre. Tal como lhes ensinamos a ler e escrever, deviam aprender a ler emoções, aprender a colocar-se no lugar do outro e a perceber o impacto das suas ações. Aprender a trabalhar o seu lado humano.
Como o bullying é silencioso, temos de ter atenção às pistas. No caso da vítima, os sinais de alerta são por exemplo desaparecerem com frequência as suas coisas na escola, aparecerem com marcas ou nódoas negras regularmente, evitarem os recreios, não serem convidados para as festas de aniversário ou terem resistência constante em ir para a escola.
No caso dos agressores, aparecem com objetos ou dinheiro extra regularmente, são pouco empáticos perante a situação dos colegas, desvalorizam a escola, são desafiadores da autoridade e respondem com uma atitude provocadora. Gozam com a situação das vítimas, nunca aceitam as suas responsabilidades culpando os outros, demonstram agressividade nos jogos e situações de desafio.
Mais uma vez, o Bullying é silencioso!
O bullying já não tem limites físicos, com a evolução das redes sociais já salta os portões da escola. Ele acompanha a vítima de uma forma silenciosa mesmo quando ela está em casa. Persegue-a e aumenta em número e impacto a sua audiência.
Para prevenir o cyberbullying para além de trabalhar a empatia, essencial para perceberem o impacto das suas ações nos outros, devemos mostrar aos nossos filhos como utilizar de uma forma equilibrada as redes sociais.
De uma forma humana e consciente. Nas redes sociais, como não vemos a cara, não vemos a reação do outro. Uma sequência de emojis e fotografias retocadas, de cenários fabricados, de vidas “perfeitas” onde a desumanização dá por vezes origem a situações de grave violência psicológica.
Mesmo que o bullying não aconteça ao teu filho, não é por isso que deve ser ignorado. Ele é como um vírus, espalha-se. Contamina quem o faz, quem dele sofre e quem assiste. Não pode ser trabalhado isoladamente, mas todos devemos intervir, participar, prevenir, denunciar, tomar um papel ativo nas escolas e na vida para que o bullying diminua. O bullying afecta TODA a escola. Por isso, todos temos de ter um papel.
Tudo está a mudar muito depressa. Perdemos o pé, o foco, ficamos enrolados e não notamos o que se está a passar mesmo à nossa frente. Temos muito tempo para fazer, temos pouco tempo para ser. Os nossos filhos precisam da nossa ajuda para navegarem neste intenso novo mundo. Nós também precisamos de ajuda…
O bullying precisa de ser resolvido por todos, em conjunto, em comunidade para que nenhuma criança se sinta sozinha, nem nenhum pai.